quinta-feira, 4 de setembro de 2008

SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. 3º livro. Parag. 36 a 38. Tradução: Wolfgang Leo Maar; Maria L. Mello; Oliveira Cacciola. 3ª ed

Shopenhauer faz uma perfeita distinção entre dois tipos de fenômenos que ocorrem na vida humana, o primeiro, a partir do que ele determina como o princípio da razão motivado e dirigido pela vontade, como é o caso da ciência; o segundo seria, os acontecimentos que viriam a trazer à vida humana a verdadeira essência das coisas ou como afirma no texto “o essencial permanente dos fenômenos do mundo” regidos tão somente pelas idéias e completamente desprovidos de vontade, ou como mesmo caracteriza, por “vontade desinteressada”.
A única forma para o alcance desta “vontade desinteressada” para Schopenhauer, seria algo maior, algo que ao partir das idéias, transcende o tempo, as relações, seia o que intitularíamos como Arte ,ou as várias expressões da arte.
Assim, entre os homens haveria seres providos de uma sensibilidade aguçada, capazes de enxergar a essência pela pura contemplação intuitiva, corpos que carregariam consigo uma alma bastante distinta por serem inquietas e desassossegadas, que ansiariam a todo instante pelo diferente, pelo novo, ou seja, trariam consigo, o que Schopenahuer intitulará como, o Gênio.
Qual seria o objetivo primeiro de tais “homens especiais” por intermédio do “Gênio”? Segundo Schopenhauer, a arte se demonstra a partir desta vontade desinteressada, então, a mesma teria o objetivo essencial de expressar sentimentos dos mais diversos, que se verdadeiramente desenvolvidos pelo “gênio” tornasse-iam duradouros e claros.
Shopenhauer a todo instante demonstra as diferenças pertencentes ao “Gênio” e o “filho comum da terra” assim, define também que a fantasia poderia fazer parte da genialidade, já que além dos objetos de suas idéias, estas responsáveis em proporcionar ao mesmo as “formas essências permanentes do mundo”, se utilizariam da fantasia para ampliar seus horizontes transcendendo sua realidade, o que transformaria a fantasia em companheira das idéias. Porém, a fantasia também poderia fazer parte da existência dos homens comuns, mas de maneira comum, a partir de interesses nascidos da vontade, que logo, gerariam sentimentos superficiais e efêmeros. Tais diferenças entre o Gênio e o homem comum ficam explicitas no trecho que segue:


“O homem comum, esse produto de fábrica da natureza que ela produz aos milhares todos os dias, é como dito, completamente incapaz de deter-se numa consideração plenamente desinteressada, a qual constitui a contemplação propriamente dita. Ele só pode direcionar a sua atenção para as coisas na medida em que estas possuem alguma // relação, por mais indireta que seja, com a sua vontade. Ora, como a esse respeito o exigido é sempre o conhecimento das relações, segue-se que o conceito abstrato da coisa se torna suficiente e muitas vezes mais apropriado. Assim, o homem comum não permanece por muito tempo na simples intuição, por conseguinte não prende o seu olhar por muito tempo (...) O homem genial, ao contrário, cuja faculdade de conhecimento, pelo seu excedente, furta-se por instantes ao serviço da vontade, detém-se na consideração da vida mesma e em cada coisa à sua frente esforça-se por apreender a sua idéia, naão a sua relação com as outras coisas. (P. 257)”




O Gênio, desprovido do principio da razão, segundo Schopenhauer, torna-se propenso a negligenciar os conhecimentos prudentes a racionalidade, assim o homem de gênio considerado como detentor da inspiração, pode ter grandes dificuldades de entendimento quanto aos conhecimentos que necessitam de comprovação, ou como afirma Schopenhauer: “... o tratamento lógico da matemática contraria o gênio, já que obscurece a intelecção propriamente dita, sem satisfazer, mas apenas oferecendo uma simples cadeia de conclusões...” Isto explicaria a dificuldade encontrada por grandes gênios da arte nos conhecimentos matemáticos, ou que exijam o direcionamento à faculdade de juízo. Assim, também se explicaria a não correlação da racionalidade com a alma genial, que a todo instante contempla a inquietude das paixões, a fantasia e de certa forma a insanidade.
A suposta insanidade ou a loucura determinada pelo os homens comuns e racionais, e encontradas no mundo do gênio, seria para Schopenhauer, tão somente, a sensibilidade em demasia exposta por estes seres únicos, o que demonstraria a estes mesmo homens comuns a não capacidade do alcance dos mesmos a este mundo determinado a privilegiados. Comprovando, assim, que quem se utiliza uma espécie de venda para coisas essenciais e verdadeiras, são os homens que priorizam a racionalidade. Assim, a loucura se caracterizaria como o “último meio de salvação” do gênio as aflições e as dores da alma. Já que loucura causa danos à memória, que fazem com que o real se misture com o imaginário. Além, da clara ligação do louco com o alheio ao individual como afirma Schopenhauer, já que o quê o diferencia do homem normal são as convenções nas relações no agir com o outro. Assim, a desmedida, ou seja, o extremo se tornaria o único modo de alcance as Idéias perfeitas.
No capítulo 37, Schopenhauer, afirma que a satisfação estética tornasse-ia possível por todos os homem, porém obedeceria uma escala, caso contrario, a concepção de belo na arte seria impossível. Pois, todos possuem a capacidade de priorizar a essência da idéias, claro se for possível, desprover-se do seu motivo egoísmo e de sua vontade interesseira. Assim, Schopenhauer define que o Gênio tão somente pertence a um grau elevadíssimo de abdicação de seus interesses, o que o faz perfeitamente, reproduzir e materializar em obra de arte os sentimentos provenientes das tais Idéias. No trecho a seguir, Schopenhauer afirma:


(...) O artista nos permite olhar para o mundo mediante seus olhos. Que ele
possua tais olhos a desvelar-lhe o essencial das coisa , independente de suas
relações, eis aí precisamente o dom do gênio o que lhe é inato (...).


No capítulo 38, Schopenhauer expõe considerações e diferenças sobre o belo e o sublime e como tais sentimentos ocorrem com o homem sendo por meio da natureza ou sendo por meio da arte.
Schopenhauer determina “dois componentes inseparáveis” para o conhecimento estético primeiramente o conhecimento da essência dos objetos, ou seja, da idéia, posteriormente como “puro sujeito do conhecimento destituído de vontade”, ou seja, o homem liberto das amarras e de seu egocentrismo e que conhece a essência de tais idéias. Tais princípios, segundo Schopenhauer, estariam diretamente relacionados e somente a partir da relação dos mesmos é que o gênio abandona por completo o princípio da razão. Porém, só a partir da correlação dos mesmos é através do produto deste processo, a obra de arte, que o homem desperta o sentimento de Satisfação. Porém, é necessário considerar a satisfação efêmera, nascida da natureza do homem que põem–se no mundo como ser movido por vontade, insatisfeito e egoísta, o que conseqüentemente o inclina a busca da felicidade em seus desejos externos. Segundo, Schopenhauer somente quando nos libertamos deste jogo de motivos e vontade é que o homem alcança e se desprende da “vontade interesseira” e que faz com que o homem encontre a paz e a genuína Satisfação. Como vemos do trecho abaixo:


“Quando, entretanto, uma ocasião externa ou uma disposição interna nos arranca subitamente da torrente sem fim do querer, libertando o conhecimento do serviço escravo da Vontade, e a atenção não é mais direcionada ao motivos do querer , mas, ao contrario à apreensão das coisas livres de sua relação com a Vontade, por tanto sem interesse sem subjetividade, considerando-a de maneira puramente objetiva, estando nós inteiramente entregues a elas, na medida em que são simples representações, não motivos; - então aquela paz sempre procurada antes pelo caminho do quere, e sempre fugidia, entra em cena de uma só vez por si mesma e tudo está bem conosco (...)”

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